A história da Fábrica Alentejana de Lanificíos
O artesanato lanífero está na origem do atual concelho de Reguengos de Monsaraz e constitui uma referência essencial na história da região. Desde o século XVI, as passagens de grandes rebanhos de transumância, ligados à Mesta Espanhola, juntamente com a fixação local de couteiros da Casa de Bragança, criaram condições excecionais para o desenvolvimento desta atividade. Era uma prática comum entre vários artesãos que trabalhavam em pequenas estruturas familiares.
Nos anos 30 do século XX, António Durão instalou uma oficina para que várias pessoas pudessem exercer no local esta arte, fundando assim uma pequena fábrica onde empregou mestres e aprendizes. Posteriormente, nos anos 50, José Rosa reuniu nessa oficina a totalidade das pequenas indústrias de mantas de Reguengos de Monsaraz, dando-lhe o nome de Fábrica Alentejana de Lanifícios. Aperfeiçoou as técnicas de produção, o design e a qualidade, criou a imagem de marca das Mantas de Reguengos e contribuiu decisivamente para a sua internacionalização, tendo recebido, em 1958, a Medalha de Ouro na Exposição Universal de Bruxelas.
Em 1977, Mizette Nielsen, de nacionalidade holandesa, assumiu o negócio e consolidou o conceito das mantas intemporais. Manteve o prestígio e a qualidade dos tecidos reguenguenses, introduzindo, porém, inovações que, aliadas à criatividade, mantiveram a marca viva até aos dias de hoje. Acrescentou valor e uma nova dimensão a esta arte, tão significativa na identidade cultural do Alentejo.
Em janeiro de 2020, a Fábrica Alentejana passou para as mãos de três portugueses apaixonados pelo Alentejo — António Carreteiro, Luís Peixe e Margarida Adónis — que assumiram como principal objetivo dar continuidade ao trabalho da Fábrica, introduzindo simultaneamente novos produtos e conceitos que conferem novas funcionalidades aos tecidos tradicionais. Ao mesmo tempo, tornou-se possível que cada cliente participe no processo criativo através da personalização completa das suas peças, mantendo sempre os elementos distintivos das Mantas de Reguengos: os padrões tradicionais e a produção manual em lã.
AS MANTAS ALENTEJANAS E A SUA MATÉRIA-PRIMA
Pelos campos do Alentejo percorrem, desde há muitos séculos, os rebanhos de ovelhas da raça merino. Acredita-se que esta raça foi introduzida pela dinastia berbere Beni-Merines, presente na Península Ibérica durante o período dos Almóadas. A raça distingue-se pela qualidade da lã, de textura fina e suave.
Para suportar os invernos rigorosos do Alentejo, os pastores necessitavam de agasalhos, e assim nasceu a tecelagem das primeiras mantas e tecidos para capotes. Os padrões eram simples, lisos ou com barras pretas ou castanhas — cores naturais da lã, consideradas inferiores — e eram impermeabilizados com um banho de azeite. Estas mantas de trabalho faziam parte do pagamento anual do trabalhador contratado.
Produziam-se também mantas de viagem e mantas de agasalho, utilizadas como cobertores. Estas eram muito valorizadas socialmente e constituíam objetos de prestígio. A lã escolhida era de melhor qualidade e as cores usadas no tingimento refletiam a ligação à região, evocando os campos floridos da primavera. Os padrões eram elaborados, alguns de inspiração romana, semelhantes aos motivos da cerâmica da época, e outros de origem pastoril, como o padrão da espiga.
SUSTENTABILIDADE
A Fábrica Alentejana de Lanifícios nasce da vontade de preservar um património e prolongar uma história que atravessa séculos. Pretende promover a região de Reguengos de Monsaraz e a sua cultura, divulgando uma arte ancestral de forma responsável e sustentável.
Na Fábrica Alentejana de Lanifícios são preservadas as técnicas, elementos e motivos tradicionais transmitidos ao longo das gerações. A tecelagem mantém os métodos artesanais e o tear continua a ser o principal instrumento de trabalho, inalterado no essencial.
As tecedeiras apoiam-se na “burra” (trave posterior do tear), empurram a “queixa” (usada para bater cada volta de fio na teia) e carregam nos pedais, fazendo passar as lançadeiras — que contêm as canelas com a lã — pela teia. As lançadeiras foram o único elemento que sofreu alterações ao longo do tempo: hoje têm rolamentos, o que torna o processo mais rápido e menos exigente. Antes, era um trabalho predominantemente masculino, dada a força física necessária.
A parte central do tear é composta pelos liços ou pranchadas — uma espécie de grade de fios presa a duas canas. Estes fios possuem nós que determinam o “programa” do padrão a ser criado. É fundamental garantir que este saber antigo não desapareça, valorizando-o e transformando-o em fonte de trabalho e prosperidade para a região, assegurando assim a sua sustentabilidade económica e social.
VANTAGENS DA LÃ
A lã é a base de toda a produção da Fábrica Alentejana de Lanifícios. Trata-se de uma fibra natural, não poluente, 100% reciclável, renovável e durável. A lã merino, proveniente de uma raça específica de carneiros que produz a melhor lã do mundo, apresenta características únicas que a tornam a escolha ideal para a decoração.
1. Ideal para regular o calor e a temperatura — A lã merino não é apenas indicada para o inverno. Os carneiros desta raça vivem em regiões com grande variação térmica e adaptam-se graças à lã que os protege. A fibra regula a temperatura, absorve a humidade e retém o calor. Graças às suas propriedades higroscópicas, a lã reage constantemente às mudanças de temperatura ambiente, garantindo conforto tanto em tempo frio como quente.
2. Solução de elevada segurança — A lã é naturalmente segura, não favorece o crescimento de bactérias e, devido ao seu teor de água e nitrogénio, é menos inflamável do que os fios sintéticos. É um material anti-chamas, amplamente utilizado nas indústrias aeronáutica e automóvel.
3. Resistência — As fibras de lã merino são complexas e compostas essencialmente por queratina, tal como os fios de cabelo humano. São extremamente flexíveis e podem ser esticadas milhares de vezes sem se partirem, o que confere às peças grande resistência e estabilidade.
4. Hipoalergénica — A lã não atrai poeira e, por isso, é indicada para pessoas sensíveis a ácaros ou poeiras.
5. Ausência de odores — Como não permite a proliferação de bactérias, a lã mantém-se inodora mesmo após uso prolongado.
Quem somos
António Carreteiro, Luis Peixe, Margarida Adónis, estão juntos na Woold d´Love Industria e Serviços Lda, porque querem continuar a tradição que lhes foi passada pela Mizzete Nielsen, consolidando a produção e a herança cultural da fábrica, incentivando as pessoas a voltarem às origens do conforto de uma manta de pura lã, e chegar com esta arte a mais cantos do mundo, mantendo a qualidade, os princípios, os padrões, as técnicas bem como a essência da Fábrica: fazer mantas e tapetes com lã de merino pelas mãos de talentosas artesãs e seus teares.


